Os filmes O Brutalista e Emilia Pérez são alvos de polêmica pelo uso de inteligência artificial para melhorar o sotaque e canto de atores. Os dois filmes são cotados para o Oscar e esse uso de IA renova o debate sobre a tecnologia nas artes. Tanto O Brutalista como Emilia Pérez usaram a ferramenta Respeecher, que ganhou fama ao clonar a voz do icônico Darth Vader de James Earl Jones — com autorização do ator.
A IA também foi aplicada em O Brutalista para a geração de projetos arquitetônicos. Ironicamente, o filme retrata a vida de László Tóth (interpretado por Adrien Brody), um fictício arquiteto húngaro que chega aos EUA após a Segunda Guerra Mundial. A profissão também passa por uma transformação com o uso de IAs generativas, tanto na produção de projetos (seguindo inspirações de artistas renomados) quanto na parte de viabilidade, o que envolve cálculos mais complexos.
Como a IA foi usada em O Brutalista e Emilia Pérez?
Em O Brutalista, o Respeecher foi usado para aprimorar o sotaque de Adrien Brody e Felicity Jones, que interpreta a esposa de Lászlo Tóth, também húngara. Segundo o editor do filme, o húngaro Dávid Jancsó, mesmo com o uso de treinadores o resultado do sotaque não agradou à produção.
Jancsó reconhece que o húngaro é uma língua difícil de aprender e pronunciar, tanto que Brody, filho de uma húngara, não conseguiu atender as expectativas. Para contornar esse problema, o editor utilizou o Respeecher para adicionar a pronúncia de determinadas letras e fonemas. Jancsó inclusive usou parte da sua fala para aprimorar o sotaque húngaro dos atores.
Isso por si só já levanta o questionamento do que é de fato atuação e o que é IA. Porém, Jancsó se defendeu dizendo que a atuação é toda de Brody e Jones. Para o editor, sem o uso do Respeecher o filme estaria empacado.
Já com Emilia Pérez o uso da IA envolveu a parte musical do filme. A atriz Karla Sofía Gascón teve parte do seu canto aprimorado com o uso do Respeecher. A voz da atriz foi misturada com a voz da cantora francesa Camille, que também é co-autora das músicas do filme. A IA foi usada nesse caso para ampliar as notas alcançadas por Gáscon.
O que é a Respeecher?
A Respeecher é uma empresa de IA fundada na Ucrânia que promove ferramentas para edição de áudio. A empresa já tem um forte mercado nas produções de Hollywood e séries de TV. O maior destaque até então era a clonagem da voz da James Earl Jones, que fez a icônica dublagem de Darth Vader na trilogia original de Star Wars.
A empresa também recriou a voz do dublador original do Darth Vader na Hungria. O ator faleceu em 2005 e a voz foi usada para os últimos lançamentos do universo Star Wars. Outro trabalho da Respeecher envolveu recriar a voz do ex-presidente americano Richard Nixo para o curta In Event of Moon Disaster, que faz Nixon ler o discurso escrito no caso de falha da missão Apollo 11.
Não usar IA será valorizado?
Por outro lado, o filme Herege (spoiler) termina com um aviso de que nenhuma inteligência artificial generativa foi usada na produção do filme. Com a rivalidade entre diretores, é provável avisos desse tipo fiquem mais comuns em filmes. Ou que a competição entre eles leve as campanhas de divulgação a focar no não uso da tecnologia.
Na questão do sotaque, as críticas também apontam que o realismo seria maior se as produções contratassem atores com a mesma língua materna dos personagens.
Com informações de The Guardian (1 e 2) e The Wrap
“O Brutalista” e “Emilia Pérez” são criticados por usar IA na voz de atores